Produtores de morango apreensivos com campanha

A Morangoeste foi fundada em 2003, mas conta com mais de 35 anos de experiência no cultivo de morangos. Está situada no Oeste, mais concretamente no Ameal, em Torres Vedras, e aposta na produção integrada, cultivando diversas variedades em cerca de 10 hectares (ha), ao ar livre e em estufa. A produção começa em Fevereiro e termina em Outubro.
Aqui, «está quase tudo em multi-túneis, pois acreditamos que é deste modo que as plantas vingam melhor. Só temos pouco mais de um hectare ao ar livre. Depende dos anos, mas normalmente colhemos cerca de 40 toneladas por hectare. Em anos excepcionais, podemos ir até às 50 toneladas», partilha António Correia. Actualmente, a principal variedade é a Rociera. «Ainda é muito cedo para saber o que se vai passar, ainda para mais com este frio: as coisas atrasam-se mais; mas as plantas estão boas», diz o produtor.
Para fazer face aos problemas fi tossanitários, «essencialmente ácaros e tripes, vamos usar alguns produtos de resíduo zero, para não aplicarmos tantos químicos», comenta. «E lá vamos conseguindo dar a volta à situação. Como tem estado frio, não tem sido complicado. Por vezes, há quebras na produção devido ao clima, por fazer demasiado calor ou demasiado frio, mas vamos sobrevivendo.»
Para António Correia, o «aumento generalizado dos custos de produção» é o maior constrangimento que ameaça a fileira. «Os adubos e os agroquímicos, embora agora utilizemos menos, subiram muito. Infelizmente, todo o comércio ganha muito e o produtor, que é o que trabalha mais, é sempre o que ganha menos. Quando vêem o produto a determinados preços no supermercado, as pessoas acham que nós ganhamos muito e não é nada assim. Recebemos dois euros e depois vemos os morangos a sete ou oito euros.» A Morangoeste escoa a produção para o mercado nacional e para Espanha. «As exportações têm tido um peso de cerca de 70% no nosso negócio, mas este ano ainda não sei como
correrá», assinala o produtor.

«Do produtor sai tudo barato»

A MorangosSerra, marca criada pelo produtor agrícola Carlos Serra, produz morangos há mais de duas décadas. Actualmente, com 1 ha em produção, da variedade San Andreas, na localidade de Sobreiro Curvo, concelho de Torres Vedras, o produtor recorre a práticas sustentáveis, que conferem aos seus morangos a qualidade reconhecida pelos seus clientes. Carlos Serra escoa o seu produto para o mercado nacional, tendo lugar no Mercado Abastecedor da Região de Lisboa (MARL). Os problemas fi tossanitários não variam muito de campanha
para campanha, mas o “apertar do cerco” no uso de fitoquímicos tem “trocado as voltas” a quem anda nos campos.
«Com as novas regulamentações, certos produtos saíram do mercado e está a ser difícil controlar muitas pragas, pelo que temos muito desperdício. Os produtos novos, dizem ser eficazes, além de serem muito caros não têm dado grandes resultados. A alternativa é começar com os preventivos muito mais cedo, para evitar os problemas, e pulverizar dia sim, dia não. Mesmo assim, ao fi m de dois dias já se está a ver a praga outra vez. Também vamos fazendo experiências com novas plantas que se adequem melhor ao nosso clima, de forma a termos prejuízos menores.» Em relação à actual campanha, «como a plantação é ao ar livre, só começamos a apanhar morango em meados do mês
que vem», refere. Quanto aos preços de comercialização, Carlos Serra afirma que «a inflação de que se fala é pura especulação, pois do produtor sai tudo barato. Com a desvantagem de os preços com os custos de produção terem aumentado muito, seja plantas, plásticos ou fitoquímicos. De há dois anos para cá está tudo muito pior. É que os preços só sobem nas prateleiras dos supermercados». Sobre a produção na campanha actual, realça que «ainda é cedo para fazer estimativas, pois lutamos diariamente contra muitas coisas, como o calor ou a chuva que, quando chegam em demasia, causam muitos estragos; mas, se tudo correr bem, cada pé rende 400 a 600 gramas de morangos».
 

 Apoio técnico é essencial

Criada em 2005, a Hortiart situa-se no Oeste, na localidade de Ameal, em Torres Vedras. Com uma produção totalmente certificada em GlobalGAP, a empresa cultivou este ano 9,5 ha de morango, das variedades Splendor, Rociera e San Andreas. «Eu sou como os que falam de futebol: prognósticos só depois do jogo. A campanha depende de muita coisa: da produção, dos preços, entre outras. Tenho vindo a reduzir a
área plantada, principalmente devido à falta de pessoal. Tem sido muito complicado arranjar boa mão-de-obra. Vem muita gente de fora que cria muitos problemas. Este ano parece que está diferente, mas ainda vamos ver. Há anos que já não há mão-de-obra nacional. Há 40 anos, havia bons profissionais, que eram principalmente mulheres. Para não correr o risco de perder a produção no final, por não conseguir colher,
prefiro reduzir a área», constata Artur Gomes Correia. Aqui, há morangos praticamente o ano inteiro, embora a maioria da colheita se concentre nos próximos meses: «as plantas estão quase todas em multi-túneis, só tenho algumas ao ar livre», indica o produtor. Para prevenir os problemas fitossanitários, «fazemos uns tratamentos preventivos e outros curativos. Tenho uma pessoa especializada que me dáassistência técnica: visita-me uma vez por semana e aconselha-me sobre os tratamentos ou procedimentos necessários. Tentamos sempre minimizar os contratempos. O técnico também me faz o caderno de campo, porque trabalhamos com GlobalGAP. Temos muitas regras para cumprir e cada vez temos menos produtos, está tudo a ir na direcção dos produtos naturais. Ainda na semana passada fiz um tratamento com
um produto desenvolvido em Portugal, mas cuja licença foi adquirida por norte-americanos».
Os morangos da Hortiart são escoados principalmente em três pontos. «Mandamos para Lisboa, Porto e Madrid – para onde vai mais tarde, em fins de Março e início de Abril. Num ano, mandei 60% da produção para Madrid. Mas tudo depende dos mercados: temos que ver onde os preços estão melhores», salienta.

Facebook
Twitter
Pinterest
LinkedIn
Email

Deixe uma resposta

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Notícias Recentes

José Manuel Fernandes
José Manuel Fernandes é ministro da Agricultura e Pesca do XXIV Governo Constitucional
3b
Santarém recebe III Colóquio sobre o Uso Sustentável dos Pesticidas a 24 de Maio
Alqueva
EDIA disponibiliza Anuário Agrícola de Alqueva de 2023

Notícias relacionadas

José Manuel Fernandes
José Manuel Fernandes é ministro da Agricultura e Pesca do XXIV Governo Constitucional
O até agora eurodeputado José Manuel Ferreira Fernandes é o nome proposto para...
3b
Santarém recebe III Colóquio sobre o Uso Sustentável dos Pesticidas a 24 de Maio
A Escola Superior Agrária do Instituto Politécnico de Santarém (ESAS) vai ser...
Alqueva
EDIA disponibiliza Anuário Agrícola de Alqueva de 2023
A Empresa de Desenvolvimento e Infraestruturas de Alqueva (EDIA) disponibilizou...
4a
Grow Field Days promove visitas de campo com foco no microbioma do solo
No âmbito da iniciativa “Grow Field Days”, com o mote “De agricultor para agricultor!”,...