Cátia Afonso: a jovem agricultora que inova no olival em sebe em Trás-os-Montes

A produtora de Azeite Virgem Extra, Cátia Afonso começa por explicar que a sua empresa, a Olivadouro, nasce em 2011 com o objectivo de executar um projecto agrícola inovador. Apostou no olival em sebe (superintensivo), no Vale da Vilariça, concelho de Vila Flor, em plena Região Demarcada do Douro Superior, Trás-os-Montes. 

A exploração conta, na sua totalidade, com 80 hectares (ha), sendo 54 ha só de olival. 

«Queríamos (e conseguimos) produzir azeite de forma eficaz com tecnologia, maquinaria e inovação», explica Cátia Afonso. Até ao momento, garante, «a campanha está a correr muito bem e dentro das quantidades esperadas». Apesar disso, a responsável da Olivadouro não antecipa valores, tendo em conta que «ainda estamos a meio da campanha».

Já em 2019, a empresa apostou na marca OLIV8, e é através dela que promove, em Portugal e lá fora, os azeites de «alta qualidade» que produz.

Vende a granel, maioritariamente na região Norte do País e exporta para a Suíça e os Estados Unidos, em concreto para a região da Flórida.

Além disso, a empresa participa anualmente, em pelo menos um concurso internacional para promover a marca. Nos últimos cinco anos, a OLIV8 já conquistou oito medalhas internacionais, atribuídas no Japão, Dubai, Los Angeles, Nova Iorque e Berlim.

Este ano a empresa esteve também na MIF – Feira Internacional de Macau, onde a AJAP também esteve presente com uma comitiva de 16 empresas portuguesas, e Cátia Afonso não tem dúvidas de que «foi um certame muito importante» tendo em conta que um grande objectivo é o de entrar no mercado asiático. 

Além do olival, a Olivadouro aposta também nos frutos secos, nomeadamente no pistácio. «Em 2017 investimos em 29 hectares de pistácio em modo de produção biológico. Falamos de uma árvore de crescimento lento, já fizemos colheita manual, mas ainda não fizemos mecanizada, visto a área ser muito vasta e demorar muitos anos a crescer».

Cátia Afonso, que é associada da AJAP, tem «excelentes expectativas» com a associação, e espera «poder ter networking com outros produtores, seja do ponto de vista da comercialização, seja da promoção». «Vemos muito dinamismo na AJAP e iremos certamente crescer ainda mais com o apoio da associação».

Cátia Afonso (Olivadouro) é associada da AJAP. Recebeu na sua exploração o director-geral da AJAP, Firmino Cordeiro

Firmino Cordeiro agradece à jovem produtora a confiança depositada na AJAP, o convite para visitar a sua exploração e, como olivicultor também em Trás-os-Montes de olival tradicional com variedades portuguesas (verdeal transmontana, cobrançosa, madural, entre outras), afirma que os dois modelos (em sebe e tradicional) «são fundamentais para o País». «Se por um lado, o aumento de área que se tem verificado, nomeadamente no sul em instalação de olival em sebe permitiu ao País não só torná-lo autossuficiente como ser um País exportador de azeite, que produz qualidade e aspira chegar ao pódio como produtor mundial, por outro lado, não é menos verdade que a valorização do azeite produzido pelos olivais tradicionais com variedades portuguesas em quase todas as regiões e uma boa parte já em modo de produção biológica, jamais pode ser abandonado pelos produtores e desprezado pela classe política».

Firmino Cordeiro considera que «o olival, seguramente uma das culturas agrícolas permanentes com maior área em todo o País, só pode subsistir como qualquer outra, se economicamente for viável para os produtores».

As contas da cultura são claras: «no olival em sebe a produtividade pode atingir, em média, as 16 toneladas/hectare, enquanto no olival tradicional, a grande maioria em sequeiro, dificilmente ultrapassará, em média, as 2,5 a 3 toneladas/hectare, sendo que os custos são muito equivalentes em ambos os casos. Obviamente que apesar de a azeitona ou do azeite poderem ser mais valorizados no caso do tradicional, jamais a diferença pode equilibrar o diferencial de rentabilidade».

Daí o apelo da AJAP: «temos forçosamente de valorizar o olival tradicional, seja porque o produto obtido é originário de variedades portuguesas menos produtivas do que no outro caso, seja pelos métodos de cultivo, seja pela história associada às regiões produtoras, até pelas certificações que facilmente pode ter como produto de excelência como DOP – Denominação de Origem Protegida, ou pela sustentabilidade».  Ou seja, conclui o director-geral da AJAP, «falamos da valorização do produto, que pode facilmente ser privilegiado por clientes muito específicos que apreciem estes padrões distintivos referenciados anteriormente, como também, e não menos importante, uma diferenciação positiva nos apoios, nacionais e comunitários, aos produtores em modo tradicional de olival».

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