A ministra Margarida Balseiro Lopes, acompanhada por uma comitiva da Associação dos Jovens Agricultores de Portugal (AJAP), visitou a Mainova, marca portuguesa de vinhos e azeites, na Herdade da Fonte Santa, no Vimieiro, Arraiolos, Alentejo.
Nesta visita, que decorreu na manhã de 18 de Julho, a ministra da Juventude e Modernização, teve oportunidade de contactar uma jovem agricultora, e constatou o significativo vazio de serviços e outras actividades económicas que atingem os territórios rurais no País.
A iniciativa, articulada entre o gabinete do Ministério da Juventude e da Modernização e a AJAP, contou com uma pequena comitiva da organização, liderada por Henrique Silvestre Ferreira, também ele jovem agricultor no Alentejo.
Bárbara Monteiro, jovem empreendedora rural e jovem agricultora na Mainova, explicou que nesta exploração, de 200 hectares, a principal preocupação centrou-se desde sempre na sustentabilidade, preservação dos ecossistemas, produção biológica, e gestão rigorosa e eficiente da água da própria da exploração, uma vez que tanto a vinha, como o olival (principais culturas), e a adega necessitam dela; sem água teria de encerrar a exploração.
Com adega própria, a «qualidade dos vinhos produzidos assenta nas técnicas de produção, na diversidade de castas, no timing da colheita para cada uma (toda ela noturna), e no rigor das tarefas da adega, fazendo com que nesta exploração se produzam vinhos de qualidade superior, na quase minimização do uso de sulfuroso/sulfitos e outro tipo de produtos, e do resultado de um processo de vinificação de mínima intervenção».
Ao longo da visita à herdade, várias questões foram colocadas acerca da rentabilidade da exploração, dos apoios obtidos ao investimento, do crédito, da disponibilidade de mão-de-obra, das formas de comercialização dos produtos obtidos e de outras actividades que a exploração desenvolve ou poderia desenvolver.
Segundo Bárbara Monteiro, a produção agrícola foi apoiada por um projecto de Jovem Agricultor e o investimento da adega foi apoiado pelo PDR2020.
Relembra que, apesar de alguma burocracia e atrasos, acabou por ser interessante, uma vez que se trataram praticamente dos únicos apoios financeiros, em face de tanto investimento já realizado.
Para além das dificuldades na modernização da adega, muitas outras surgiram no licenciamento de uma charca e no pedido de licenciamento de uma barragem, que aguarda ainda aprovação.
A empresária adiantou que a falta de mão-de-obra é outro problema, principalmente especializada. Ainda assim, a exploração consegue assegurar os mínimos, contando por exemplo com um casal, que vive na herdade e que assegura um trabalho contínuo, contudo, as dificuldades surgem na colheita manual das uvas e colheita da azeitona.
Bárbara Monteiro manifesta vontade em continuar a investir, pois a exploração, por aquilo que encerra, tem potencialidades, nomeadamente na promoção de turismo de natureza, rural, enoturismo e gastronómico.
Possui um espaço único composto por inúmeras oliveiras centenárias e milenares, que gostava de transformar em parque de silêncio noturno (noites alentejanas), e de observação das estrelas, para além do reforço do enoturismo e da restauração inexistente.
Lamenta ainda que a exploração, ainda com poucos anos de actividade, nunca tenha sido contemplada com apoios à internacionalização das PME, nomeadamente na participação em feiras e certames internacionais, quando se trata de produtos exclusivos e únicos de superior qualidade, onde encontrar um nicho de clientes pode ser um dos segredos de maior viabilidade financeira de uma exploração como esta, exemplo na sustentabilidade, biológica, que recicla, preserva e melhora os solos e promove os ecossistemas.
Impunha-se, segundo a jovem empreendedora e agricultora, a diferenciação nos apoios para estas actividades (extra agricultura), uma vez que os existentes, para além de muito dispersos em vários organismos e tutelas, não oferecem condições privilegiadas para os primeiros anos na instalação de um jovem empresário, nem existe diferenciação nesses poucos apoios em função das regiões, onde estes tipos de projectos vão surgindo.

Em resumo, para Bárbara Monteiro, este tipo de investimentos tem poucos apoios, sem diferenciação regional e rural, sem distinção para jovens, e quase sempre pensados para explorações de média a grande dimensão, com volumes de vendas nos últimos anos bastante elevados, ou seja, «não tem existido uma verdadeira visão de futuro para estes territórios, cada vez com menos jovens agricultores e muito, muito poucos jovens empresários rurais».
A ministra Margarida Balseiro Lopes ouviu, questionou e mostrou preocupação, nomeadamente, com o reduzido número de novos jovens agricultores em Portugal, dando nota, contudo, de ministro da Agricultura, José Manuel Fernandes, estar a fazer «um enorme esforço para inverter esta tendência».
Ao longo da conversa, o presidente da AJAP manifestou à ministra a sua enorme preocupação com a ausência de investidores jovens nestes territórios (sobretudo com formação média e/ou superior), em áreas não só de serviços e complementaridade aos vários tipos de explorações agrícolas e pecuárias, como no surgimento de novas empresas lideradas por jovens, onde novas ideias de negócio assentes na inovação de produtos, serviços e processos, com mais tecnologia e digitalização eram estritamente necessárias.

O mesmo em relação a este tipo de turismo rural e de natureza, pois para quem quer iniciar como jovem empresário um projecto desta índole, depara-se com uma vasta complexidade de investimentos, custos e burocracias pesadas oriundas de diversas entidades, um autêntico “cocktail explosivo” para afastar os jovens, e até investidores com meios próprios.
O presidente da AJAP, Henrique Silvestre Ferreira, relembrou a necessidade de fazer baixar a média nacional da idade dos agricultores, 64 anos (e isso faz-se com a entrada de mais jovens agricultores) e, por outro lado, a média da idade da população em geral dos territórios rurais é também superior à dos territórios urbanos.
Também por este facto, estes territórios «necessitam de mais ‘sangue novo’ em dinâmicas empresariais diversas, não só complementares da agricultura, mas também viradas para a digitalização, novas tecnologias, Inteligência Artificial e para a grande área do turismo rural e turismo de natureza que o País pode oferecer».
Ainda nesta matéria, Henrique Silvestre Ferreira insistiu na necessidade de se encurtar caminho na celeridade de responder a projectos apresentados, frisou ser essencial acelerar processos junto da APA, no crédito bancário, com produtos mais adaptados à realidade agrícola, com períodos de carência e alargamento do prazo de liquidação dos empréstimos. E igualmente na necessidade de mais obras de armazenamento de água para a agricultura, pois, sem água, esta actividade fica seriamente comprometida, inclusive nas culturas tipicamente de sequeiro.
Henrique Silvestre Ferreira deixou bem vincada a posição da AJAP: exigem-se medidas mais musculadas e específicas para os jovens agricultores, mas não podemos escamotear a realidade destes territórios que estão a perder vitalidade, cada vez mais envelhecidos e com menos jovens.
«Se não conseguirmos rejuvenescer as diferentes actividades que se praticam, e criar novas associadas ao nosso tempo, com outras tecnologias, ferramentas digitais e inteligência artificial, tudo fica mais difícil até para os jovens agricultores viverem com assuas famílias nestas paragens. Tem de existir um verdadeiro pacto alargado para reverter o problema, um compromisso do Governo e organismos do Estado, assente na articulação entre todos eles, onde a eficiência, o rigor e decisões rápidas, sejam palavra de ordem, pois mesmo existindo meios e programas, se estas premissas não se verificarem, estas regiões definham cada vez mais, e vão continuar a perder população, massa crítica, jovens e esperança.»