Segundo a Porbatata – Associação para a Promoção da Batata, o tubérculo está a ser comprado ao produtor a 0,05 €/kg. Este valor representa apenas ¼ do valor de produção. Os produtores falam de «crise» e de «impactos drásticos» nas suas empresas.
Uma combinação de factores fez com que uma campanha que, no ano passado, se adivinhava boa, se tornasse «desesperante», explica António Gomes. Por um lado, a perspectiva de falta de batata na Europa fez com que muitos agricultores apostassem na cultura. Depois, a produção «excepcional» que se registou por todo o Continente. E, por fim, o facto de as doenças como o míldio não terem atacado a cultura. Isto resultou num maior volume de produção do que o esperado e consequente desvalorização do produto.
Em Portugal, as exportações de batata «estão praticamente paradas», o que agrava ainda mais a situação. «A indústria tem estado a cumprir minimamente os compromissos», mas como há mais produção do que o esperado «há sempre sobra», detalha o presidente da Porbatata.
Apesar do cenário, o responsável pela Porbatata, ligado à produção de hortícolas há várias décadas, garante que é um fenómeno «cíclico» e que acontece pelo menos uma vez a cada dez anos. Contudo, «pode demorar mais de um ano a normalizar».
O impacto na produção
Os produtores estão preocupados. Tânia Fonseca, da Bacefrut, diz que está a viver a «pior crise» do sector. «A situação no campo está muito complicada, as produções este ano foram muito elevadas e as vendas muito fracas.» A batata representa entre 80% e 90% do volume de negócios da Bacefrut e nem se pensa em abandoná-la, mas o desânimo na voz de Tânia Fonseca demonstra os «impactos drásticos» deste fenómeno.
Para contornar a situação, a Bacefrut está a tentar colher toda a batata do campo e armazená-la até que os preços voltem a subir, o que é algo que tem custos «elevadíssimos». Alguma está a ser escoada para a alimentação animal, mas «não cobramos por essa batata».
A Frusantos, além de produzir e comercializar batata para consumo, também está encarregue da distribuição de batata de semente em Portugal. Fá-lo há 35 anos e Miguel Santos e Tozé Santos, administradores da empresa, dizem que «no nosso histórico não temos referência a uma situação semelhante a esta».
Além dos problemas em escoar o produto, também há questões quanto à qualidade de alguma da batata. Nomeadamente, «as variações de temperatura registadas, que fazem com que a batata não consiga ter a conservação que deveria ter em condições e anos normais».
A capacidade de armazenamento em frio tem sido o factor essencial para mitigar o impacto desta crise. «Sem essas condições era impossível cumprir os compromissos. Os lotes que nos transmitem mais confiança estão a ser armazenados em câmaras de refrigeração e estamos a acompanhar a evolução do mercado», detalham os administradores da Frusantos.