Desenvolver soluções e ferramentas para «fomentar a agrobiodiversidade, combatendo o paradigma agrícola de monocultura e de agricultura industrializada», é o objectivo do novo projecto europeu Radiant. Financiada pelo programa Horizonte 2020, da União Europeia, em mais de 5,9 milhões de euros, esta iniciativa é coordenada pelo Centro de Biotecnologia e Química Fina (CBQF), da Escola Superior de Biotecnologia (ESB) da Universidade Católica Portuguesa no Porto.
Com uma duração de quatro anos, o projecto “Radiant – Realizando Cadeias de Valor Dinâmicas com Culturas Subutilizadas”, envolve 29 entidades de 12 países – Alemanha, Bulgária, Chipre, Eslovénia, Espanha, Grécia, Hungria, Itália, Irlanda, Portugal, Países Baixos, Reino Unido – e tem a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) como parceira. A iniciativa conta com 20 explorações agrícolas piloto, designadas como “explorações Aurora”, «que abrangem as diferentes agroecologias em toda a Europa e onde boas práticas serão testadas e demonstradas», refere a Universidade Católica.
Segundo Marta Vasconcelos, investigadora do CBQF e coordenadora do Radiant, «para a concretização do projecto, serão também recrutados 45 agricultores participativos para facilitar a integração das culturas subutilizadas, realizando uma gestão adaptativa da agrobiodiversidade através de ferramentas construídas pelo próprio projecto». Esta iniciativa agrega várias finalidades: «demonstrar transições bem-sucedidas para sistemas inclusivos de agrobiodiversidade; realizar programas de melhoramento para que as culturas subdesenvolvidas sejam mais competitivas; testar as melhores práticas agrícolas que maximizem a sua produção sustentável; ampliar o seu reconhecimento ambiental, social e nutricional, através da caracterização dos seus múltiplos benefícios; oferecer soluções para a sua integração em cadeias de valor rentáveis, com base em inovações políticas, sociais e de governança; capacitar a sociedade para integrar estes alimentos nas suas dietas».
Marta Vasconcelos explica que, «no último século, 75% da diversidade genética das culturas foi perdida». «Existem cerca de 259.000 espécies de plantas, das quais 50.000 são comestíveis (sendo 150-200 realmente consumidas), e apenas três fornecem 60% das calorias e nutrição da dieta humana (milho, arroz e trigo). Este cenário é o culminar de um processo que começa logo ao nível da produção local de alimentos mais diversificados, pois os obstáculos são muitos», diz.
Tendo em vista reduzir estes obstáculos e «tornar possível um aumento da diversidade de culturas, reflectida nos alimentos consumidos pelos cidadãos», o Radiant pretende, «através de uma abordagem baseada na “Teoria da Mudança”, criar ferramentas que preservem a agrobiodiversidade, tornando possível a diversificação da disponibilidade de alimentos produzidos localmente», assinala a Universidade Católica. Assim, indica a entidade, «ao promover culturas subutilizadas, que incluem uma mistura de espécies pouco produzidas, como as leguminosas, ou variedades mais antigas e “esquecidas” de culturas mais comuns, como o trigo, milho, cevada ou tomate, a ambição do Radiant é reduzir a ‘lacuna de produção’ – entre as culturas mais populares e as subutilizadas – e a ‘lacuna nutricional’ – entre os alimentos mais consumidos e os alimentos mais necessários para uma dieta saudável». Marta Vasconcelos acrescenta que se pretende também «garantir um desenvolvimento económico e social justo para todos os intervenientes das cadeias de valor».