Regantes debateram oportunidades e soluções de energia fotovoltaica em regadio

“Bombagem fotovoltaica em regadio: soluções e boas práticas” foi o tema de um seminário realizado a 10 de Março, em Aljustrel, pela Federação Nacional de Regantes de Portugal (Fenareg), pela Universidade de Évora e pela Associação de Beneficiários do Roxo (ABRoxo). No evento, que foi direccionado para aproveitamentos hidroagrícolas e contemplou ainda uma visita técnica às instalações fotovoltaicas da ABRoxo, estiveram em foco as oportunidades de investimento, as soluções e as boas práticas de bombagem fotovoltaica no regadio colectivo, bem como o problema do aumento dos custos de energia.

Em destaque esteve o projecto-piloto para a criação de uma Comunidade de Energia Renovável, que a ABRoxo e a Fenareg estão a implementar em Montes Velhos, Aljustrel, e que constitui um modelo que a federação pretende replicar em perímetros de rega noutras regiões do país, como explicou José Núncio, presidente da Fenareg. «Vamos avançar experimentalmente com uma comunidade de energia, envolvendo uma agroindústria e aproveitando a capacidade excedentária de produção de energia da ABRoxo, com vantagens para ambas. A indústria comprará a energia mais barata e a ABRoxo venderá a energia excedentária que produz neste sistema de painéis solares a preço mais elevado.»

Além das oportunidades para a descarbonização do regadio colectivo que resultam do uso da energia solar, esta também ganha relevo face à a subida acentuada do preço da energia, que «obriga» as associações de regantes a encontrar alternativas para ter fontes de energia mais barata. «O preço da energia em 2021 rondava os 60 euros/megawatt e este ano já está em 500 euros/megawatt. É um custo incomportável. Felizmente que apostámos na energia solar. O nosso objectivo é produzir energia limpa para fornecer água aos agricultores a um preço competitivo e compatível com os seus custos de produção cada vez mais elevados. No regadio do Roxo, estamos a falar de energia fotovoltaica, mas também hídrica, e poderão surgir outras. Precisamos de fontes de energia alternativas mais baratas e mais amigas do ambiente», disse António Parreira, presidente da ABRoxo. Em 2018, esta associação de regantes instalou painéis fotovoltaicos para bombear água da barragem do Roxo e «conseguiu poupar em média 26% na factura da electricidade e reduzir as emissões de carbono em 235 toneladas de CO2 equivalente/ano», refere um comunicado da Fenareg.

No seminário, foi realçado que as associações de regantes, que gerem 40% da área de regadio em Portugal, podem recorrer actualmente a apoios públicos para instalação de painéis fotovoltaicos nos aproveitamentos hidroagrícolas, através de financiamento do Programa de Desenvolvimento Rural 2014-2020 (PDR 2020). Vítor Cordeiro, coordenador da área de investimento e riscos da Autoridade de Gestão do PDR 2020, sublinhou que as candidaturas decorrem até 22 de Abril, que a dotação orçamental do concurso é de seis milhões de euros e que a taxa de apoio é de 40% do valor do investimento, com um montante máximo elegível de 500.000 euros e um valor máximo elegível de 1,35 euros/watt.

Luís Fialho, docente na Cátedra de Energias Renováveis da Universidade de Évora, apresentou soluções e boas práticas para sistemas de bombagem fotovoltaica, recomendando painéis fotovoltaicos seguidores de eixo Norte-Sul horizontais. «Este modelo tem um perfil diário de disponibilidade de energia mais amplo do que uma instalação tradicional fixa orientada a Sul e, portanto, garante mais horas de energia para bombagem da água no Verão e menos horas no Inverno, quando a rega é menos necessária, reduzindo ao mínimo o excedente de energia injectada na rede». Luís Fialho – que participa no projecto internacional de investigação aplicada “SolaQua – Irrigação solar acessível, fiável e económica para a Europa e países próximos” – afirmou também que, para terrenos inclinados, os painéis de tipo delta, orientados a Norte-Sul, com módulos virados a Este e Oeste, são os mais indicados, e avisou para a importância de incluir cláusulas de especificações técnicas dos equipamentos e de controlo de qualidade nos contratos a celebrar com as empresas instaladoras.

«A introdução de energia verde neste sector é superimportante e mais importante ainda é produzir descentralizado, para que cada agricultor possa suprir as necessidades energéticas da sua exploração. Aos actuais preços da energia e com a crescente instabilidade no mercado internacional e no mercado ibérico de energia, para termos alguma sustentabilidade no sector agrícola a única via é fazer esta entrada de energias verdes a baixo custo», concluiu o docente. Rogério Ferreira, director geral de Agricultura e Desenvolvimento Rural, salientou ainda que «no regadio colectivo nacional há muitos e bons exemplos de eficiência hídrica e o sector está a iniciar o caminho para a eficiência energética e descarbonização através da utilização de energias limpas; é um percurso que vamos continuar a incentivar»

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