A frase foi proferida por Hilal Elver, relatora especial da Organização das Nações Unidas (ONU) para o Direito à Alimentação, no decorrer da conferência “Direito humano a uma alimentação adequada: desafios e oportunidades a partir de diferentes geografias”, que aconteceu a 27 de Julho no Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG), em Lisboa.
A responsável defendeu que o Governo deve ter políticas específicas para o sector que ajudem os pequenos produtores a serem mais eficazes na sua actividade. «Apenas cerca de 30% das terras produtivas no mundo estão nas mãos de pequenos produtores e dois terços dos pobres no mundo não tem acesso à protecção social dos governos. 75% dos produtores rurais são pobres» sublinhou.
«Os governos têm de criar estruturas para que as pessoas possam ter acesso à alimentação, seja produzindo os seus alimentos, seja através de empregos, que fornecem os recursos para a aquisição dos alimentos», reforçando a necessidade de marcos jurídicos neste sector.
A título de exemplo, Hilal Elver disse que os pequenos produtores que vivem ao redor de Nova Iorque, nos Estados Unidos da América, (mais ou menos 60 quilómetros) poderiam alimentar a cidade e também todo o Estado de Nova Iorque.
A funcionária da ONU salientou que as pequenas propriedades onde se pode praticar agricultura biológica podem ser uma boa fonte de alimentação para o mundo. «A agricultura ecológica (biológica) está mais voltada para as pequenas propriedades, com uma nova abordagem, como está a acontecer em vários locais em França. Temos de utilizar de forma mais racional o sistema ecológico para a produção agrícola».
O papel das mulheres – responsáveis por 50% da agricultura mundial – «deve ser valorizado», disse Hilal Elver.
De acordo com a agência Lusa, a relatora lembrou ainda as previsões que entre 15% a 40% das nove mil milhões de pessoas no mundo em 2050 estarão sujeitas a uma maior insegurança alimentar devido a problemas climáticos, defendendo que «é preciso utilizar os recursos naturais de forma mais sustentável, nomeadamente a água potável, utilizar a terra de forma mais eficiente, mudar hábitos alimentares e diminuir os desperdícios».
De recordar que, o último relatório da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), 795 milhões têm fome crónica no mundo. Os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio (ODM) estabeleceram a meta de, até 2015, reduzir para metade o número de pessoas que passam fome.
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