Cerca de 5.000 pessoas participaram hoje, 26 de Janeiro, em Mirandela, na manifestação organizada pela Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP), que teve como principais focos o «excesso de burocratização, atrasos nos pagamentos dos fundos comunitários e a integração das Direcções Regionais da Agricultura nas Comissões de Coordenação e Desenvolvimento Regional». Segundo a CAP, esta manifestação contou com «150 tractores em marcha lenta», teve a participação de «agricultores de todo o País, incluindo Minho, Beiras, Ribatejo, Alentejo e Açores», e juntou «mais de 80 associações representantes do sector agrícola na região Norte».
A CAP indica que esta manifestação é «a primeira acção regional de uma onda de protestos que irá estender-se, ao longo do próximo mês, a outras regiões do País», e que foi realizada «contra a incompetência de quem nos governa», «contra o desnorte de políticas que apenas prejudicam a agricultura portuguesa», «contra a total ausência de visão e de rumo para o sector agroflorestal por parte dos governantes» e «contra a inércia do Ministério da Agricultura». A próxima manifestação ocorre na cidade de Castelo Branco, a 30 de Janeiro, com paragem na Direcção Regional de Agricultura do Centro, seguindo-se acções de protesto em Fevereiro, noutras regiões, incluindo Oeste e Alentejo.
A manifestação teve como destino final a Direcção Regional de Agricultura do Norte. A CAP afirma que a «adesão massiva» a esta acção «é a prova de que o sector agroflorestal está unido nas críticas às políticas e medidas erradas que têm sido tomadas pelo Governo e que prejudicam gravemente a agricultura nacional».
«Esta grande manifestação mostra que o sector e o País estão profundamente cansados das promessas que têm sido feitas aos agricultores e que não são cumpridas, como vemos pelos múltiplos anúncios que a sra. ministra da Agricultura vem fazendo aos muitos milhões que diz estarem disponíveis para o sector, mas que teimam em não chegar ao terreno, numa altura em que estamos sufocados pelo aumento dos preços dos factores de produção e ainda a braços com as consequências da seca e dos incêndios. Todos os dias há promessas de 300 ou 400 milhões de euros para ajudas, mas são sempre os mesmos e não saem do papel. Os agricultores portugueses continuam à espera dos quase 1.300 milhões euros de fundos comunitários a que têm direito sejam pagos, mas a espera prolonga-se e estamos saturados. Saturados da incompetência de quem nos governa, que mantém os agricultores à margem das grandes decisões que afectam o sector», assinalou Eduardo Oliveira e Sousa, presidente da Confederação dos Agricultores de Portugal, após a manifestação.
«Temos um Plano Estratégico da Política Agrícola Comum que foi desenhado de costas voltadas para o sector e que não serve a agricultura portuguesa, sempre em constante desvantagem competitiva para com os outros mercados concorrentes, nomeadamente Espanha. Temos uma ministra da Agricultura que aceita sem pestanejar o desmembramento do seu ministério e a extinção das entidades que garantem a proximidade com os agricultores e com o mundo rural. É o completo desnorte e os agricultores portugueses estão cansados, sentem-se abandonados, mas nem por isso desmobilizam. Esta grande manifestação do sector, em Mirandela, mostra que não baixamos os braços e que temos força para nos fazermos ouvir. E é o que vamos continuar a fazer ao longo do próximo mês, com mais acções de protesto em vários pontos do País», sublinhou Eduardo Oliveira e Sousa.
Nos discursos durante a manifestação, Luís Mira, secretário-geral da CAP, disse que «é hora de lutar, é hora de nos fazermos ouvir contra a incompetência de quem nos governa» – «Durante a pandemia, que felizmente já lá vai, demonstrámos que a agricultura não pára. Vamos agora demonstrar que a nossa determinação também não vai parar, nem se verga perante o poder político quando ele é incapaz, incompetente e inconsequente» –, e Eduardo Oliveira e Sousa apelou a que os agricultores manifestem «inconformismo». «A nossa união é a nossa força. A nossa razão tem força porque estamos unidos. Porque não vergamos. A nossa resiliência não é só porque não paramos. A nossa resiliência é porque não nos conformamos com mais esta machadada no nosso ministério. Quase não tem competências na água. Perdeu as florestas, que são a imagem da ruína do país. Perdeu parte dos animais. Agora perde as Direcções Regionais. O que é que sobra? Não é capaz de executar as ajudas ao investimento e aos jovens. Não investe no armazenamento de mais água. Não promove a modernização. Basta de tanta incompetência. Manifestemos o nosso inconformismo. Apenas reivindicamos uma coisa: competência. Fora com a incompetência. Vivam os agricultores portugueses!»
Sobre os motivos dos protestos, a CAP indica que têm alertado para as «consequências graves» da decisão de integração das competências das Direcções Regionais de Agricultura nas Comissões de Coordenação e Desenvolvimento Regional «no que ao desenvolvimento da agricultura e da floresta nacionais diz respeito, dado o desconhecimento e a falta de qualificações das CCDR para a boa aplicação dos fundos comunitários destinados ao sector». A entidade sublinha ainda «o crónico atraso nos pagamentos do Programa de Desenvolvimento Rural (no âmbito do Portugal 2020)»: «já deveria estar concluído a 31 de Dezembro de 2022, mas apenas 77% do envelope financeiro foi até agora executado».

(Fotografias: Horpozim e CAP)