Interprofissional é «um passo decisivo»

Gonçalo Santos Andrade foi eleito em Junho presidente da Portugal Fresh – Associação para a Promoção das frutas Legumes e Flores de Portugal. Em entrevista, afirma que o trabalho da anterior direcção será continuado, reforça a importância de organizar a produção e defende a criação da uma interprofissional de frutas e legumes.

Em Junho, foi eleito presidente da Portugal Fresh. O que se pode esperar desta nova presidência?

O objectivo desta direcção é continuar o trabalho que estava a ser desenvolvido pela anterior direcção e executar ao máximo o que já temos previsto para este ano. Em 2017, temos um programa com cerca de 20 acções em 12 países. Já executamos nove, em cinco mercados diferentes. Temos conseguido um resultado efectivo por parte das empresas e é isso que interessa, que as empresas consigam aumentar as exportações, diversificar os mercados, aproveitar algumas oportunidades conjuntas, como foi feito ao nível do mercado alemão, no caso específico do Lidl. Vamos continuar o trabalho planeado desde o início do ano. Aproveitar oportunidades de mercado em que seja necessária a cooperação entre várias empresas. Reforçar o trabalho nos países nórdicos. No final de Junho, estivemos no México, um mercado que já está aberto para as peras e as maçãs. Temos a expectativa de que haja uma estratégia conjunta de um número alargado de empresas para trabalhar este mercado e conseguirmos tirar o melhor partido, remunerando da melhor maneira possível os produtos portugueses. O país tem uma enorme população, só a Cidade do México tem 22 milhões de habitantes. É um número interessante. Vamos continuar a apostar fortemente nas relações institucionais que permitam melhorar a questão da abertura de mercados e da promoção. Não nos esquecemos também de um pilar extremamente importante, e que temos desenvolvido desde há uns anos para cá, que tem a ver com a formação dos quadros das empresas. Temos tido uma parceria com a AESE Business School no desenvolvimento de um programa específico de formação das empresas agrícolas e agro-industriais, o Gain. Temos igualmente feito um seminário. Vamos este ano fazer o segundo seminário de internacionalização. Pretende-se dar ferramentas aos quadros das empresas que lhes permitam estar mais preparados para as negociações de exportação e internacionalização.

Um dos objectivos que a Associação propôs ao sector foi chegar a 2020 com um valor de hortofrutícolas exportados de 2.000 milhões de euros. A que ritmo corre esse objectivo?

Em 2014, no âmbito da candidatura de Portugal a País parceiro da Fruit Logistica, em Berlim, lançámos esse grande objectivo de atingir os 2.000 milhões de euros em exportações em 2020. Nessa altura, fizemos uma conta que nos pareceu ambiciosa mas que faria algum sentido. Em 2013, tínhamos 1.000 milhões de euros em exportações, o objectivo seria duplicar este número. Se crescêssemos um pouco acima dos 10% ao ano, seria possível. Os valores exportados em 2014 e 2015 vieram reforçar essa ideia. Em 2014, atingimos os 1.101 milhões de euros (mais 10,1% face ano anterior) e, em 2015, alcançámos o valor de 1.235 milhões de euros (mais 12,1% face ao ano anterior). Em 2016, houve um ligeiramente abrandamento, registámos 1.310 milhões de euros nas exportações, o que significa um crescimento de apenas 6,1%. Neste momento, para conseguirmos atingir os 2.000 milhões de euros até 2020 temos de acelerar o ritmo das exportações. Não estamos obcecados com esta questão. Já atingimos um objectivo. Conseguirmos chamar a atenção de todos os órgãos de comunicação social, quer nacionais, quer internacionais, e projectámos o nome Portugal. O impacto de marketing e comunicação que esses 2.000 milhões de euros atingiram já estão a dar os seus frutos e acreditamos que foi uma estratégia bem delineada, bem conseguida, com um valor ambicioso, mas também minimamente realista, caso consigamos manter esta questão do crescimento de 10% ao ano das exportações.

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Como descreve o sector hortofrutícola e florícola nacional?

É um sector que tem um potencial de crescimento muito grande, mas precisa de mais organização, quer ao nível da concentração da oferta, quer comercial. Ainda só 25% das frutas e legumes é que passam por organizações de produtores. Estamos muito longe da média europeia, que são 46%, e muito distantes dos países mais evoluídos que já ultrapassam os 75% de organização. Descrevo o sector hortofrutícola nacional com grande potencial, com empresários competentes e capazes mas a necessitarmos de maior concentração de oferta, maior cooperação empresarial e maior organização na nossa comercialização e colocação dos produtos lá fora. Precisamos de organizar mais a oferta para conseguirmos ter um maior poder negocial. No sector florícola, é preciso organizar um bocadinho a oferta e, por outro lado, o valor das exportações é bastante reduzido. Houve um crescimento grande de 2015 para 2016, atingiram-se os 77 milhões de euros. Acho que há aqui vários passos a dar no sector das plantas e flores. Embora existam empresas muito interessantes, como se viu na nossa participação, pela primeira vez, na IPM Essen, [um certame que decorreu em Janeiro], na Alemanha. Participámos conjuntamente com cinco empresas já muito bem organizadas e estruturadas a nível comercial. Portanto prevejo que haja aqui um seguimento do que se tem estado a fazer nas frutas e legumes.

É viável criar uma interprofissional de frutas e legumes frescos em Portugal?

Penso que é um dos passos decisivos que o sector devia abraçar. Neste momento, encetámos uma série de reuniões com a Interfel [interprofissional francesa de frutas e legumes] para tentarmos perceber melhor o funcionamento da estrutura em França, já que tem muita experiência e muitos anos de actividade. Há várias estruturas como a Federação Nacional das Organizações de Produtores de frutas e legumes, o Centro Operativo e Tecnológico Hortofrutícola Nacional, a Portugal Fresh e outras associações que teriam muito a ganhar com a criação da interprofissional. Principalmente, seria conseguir arranjarmos maneira de promover melhor os nossos produtos e conseguir remunerar melhor a produção.

O que falta a estes sectores de actividade para verem a sua economia ainda mais reforçada?

Passa pela organização da produção, mas também por termos sempre igualdade ao nível da concorrência face aos outros países membros da União Europeia. Concorremos para um mercado global, mas muitas vezes as regras de produção entre os Estados-membros não são bem as mesmas. Se concorremos para um mercado global, quanto mais global também for a organização e as normas de produção nesses mercados, mais fácil será concorrer no mercado.

Quais os projectos para 2017?

Temos cerca de 20 iniciativas previstas em 12 países. Começámos o ano na Alemanha, pela primeira vez, no IPM Essen, o maior evento de exposição de plantas e flores. Depois, também na Alemanha, estivemos na Fruit Logistica, no maior evento de frutas e legumes. Participámos em eventos nacionais. Tivemos, em conjunto com a Associação Portuguesa de Produtores de Plantas e Flores Naturais, na Lusoflora. Tivemos um workshop no Norte, em cooperação com o Crédito Agrícola sobre “Cooperar para exportar”. Tivemos presentes na Frutitec e Hortitec em conjunto com o Centro Operativo e Tecnológico Hortofrutícola Nacional, com a Associação de Produtores da Maçã de Alcobaça e com a Associação Nacional de Produtores de Pêra Rocha. Já estivemos em França, em Perpinhã, na Medfel. Junho foi muito preenchido. Começámos o mês em Londres, pela primeira vez no London Produce Show; tivemos também um workshop na Feira Nacional de Agricultura, mais uma vez em parceria com Crédito Agrícola, também “Cooperar para exportar”, que contou com a presença do senhor ministro da Agricultura. Mais recentemente tivemos a missão de prospecção ao mercado mexicano, à Cidade do
GonçaloAndrade_PortugalFresh_2México. Reunimos com operadores de retalho e também visitámos o mercado abastecedor. Aguardamos ainda uma resposta à candidatura que submetemos, no final de Dezembro, ao Portugal 2020. Temos estado a realizar acções, mas muitas delas sem saber se temos o apoio para as fazer. Tem havido um empenho muito grande das empresas em não deixarem de participar, mesmo não sabendo se têm apoios para estas acções ou não. No segundo semestre do ano, temos previstas presenças na Asia Fruit Logistica; na Fruit Attraction, em Madrid; no PMA Fresh Summit, em Nova Orleães; no IFTF Flowers, em Roterdão. Haverá ainda uma missão de prospecção a Bogotá, na Colômbia, em conjunto com a Portugal Foods e uma presença na Wop Dubai. Além destas acções, teremos o segundo seminário de internacionalização, em principio no final de Setembro, na AESE Business Scholl, em Lisboa. O congresso da Portugal Fresh está agendado para 28 de Novembro, também na AESE Business School. E vamos participar no 12.º ICOP [Conferência Internacional de Organização de Produtores de frutas e legumes], em Nante, em França. Por fim, temos uma série de iniciativas paralelas ao nível de estudos de mercado, estratégias de comunicação específicas para estes mercados, acções que vão complementar as actividades que enumerei.

O reforço de acções na área das flores a que assistimos em 2016 é para continuar?

A estratégia da aposta das plantas e flores é para continuar e o contacto que temos tido com as empresas que participaram no IPM Essen tem sido muito positivo. Portanto nós temos como objectivo reforçar a presença nos eventos chave deste subsector.

Que eventos/acções estão previstas para promoção das frutas, legumes e flores de Portugal no mercado interno?

Estivemos na Lusoflora, na Frutitec e Hortitec, na Feira Nacional de Agricultura. Temos um sonho antigo, uma acção de promoção no Mercado da Ribeira, mas não tenho novidades porque isso implica com a questão de termos projectos que nos financiem essas situações. Estamos a tentar estudar alguns instrumentos financeiros que nos permitam fazer algumas acções de promoção mais concretas a nível nacional. Vamos estar na feira Frutos – Feira Nacional de Hortofruticultura, nas Caldas da Rainha. Não esquecemos o mercado interno porque é extremamente importante já que se somarmos o volume de negócios do sector, exportamos 55% do que produzimos, portanto 45% fica no nosso mercado.

As parcerias de promoção com mercados municipais e com cadeias de supermercados são para continuar?

Poderão alagar-se, já estamos a fazer reuniões. Mantemos a parceria com o Continente. Abrem-se aqui algumas oportunidades de fazer no mercado  interno uma parceria com o Lidl. Também já tivemos uma reunião com o grupo Auchan. O mercado interno está na nossa agenda.

É um sector que tem um potencial de crescimento muito grande, mas precisa de mais organização, quer ao nível da concentração da oferta, quer comercial.

Como decorre a abertura de novos mercados? Há alguns novos em perspectiva?

Achamos que há três mercados importantes para os produtos portugueses. A China, pela dimensão que tem é importante e temos de ter um enfoque grande. Continuamos em diálogo com o Governo e com a Direcção Geral de Alimentação e Veterinária na tentativa de abertura de alguns produtos para o mercado chinês. A Colômbia que foi aberto para peras e maçãs e temos a acção de prospecção em Novembro, no México. Nestes mercados que já estão abertos, há que continuar a trabalhar para começarmos as exportações para esses destinos não só dos produtos que estão abertos, mas tentar que se alargue a outros produtos, respeitando o que mais se exporta ao nível nacional.

O ano passado foi aberto o mercado da Colômbia e houve uma empresa a colocar neste país pêra Rocha. Este ano poderá ser diferente?

Nos últimos dois anos, o sector da pêra Rocha teve uma limitação grande na oferta de produto. Ora, ir para um mercado novo em anos de quebra de produção acentuada é sempre complicado, porque as empresas têm de satisfazer o leque de clientes que têm. A abertura de mercados é extremamente importante para diversificar as nossas possibilidades de venda. Houve uma empresa que achou que era importante marcar presença logo a partir da abertura do mercado, mas a maioria achou que não seria o momento indicado. Seguramente que este ano, caso a produção seja normal face aos últimos dois anos, haverá um interesse maior e haverá mais empresas a procurar soluções nesse mercado.

Foi criado há dois/três anos o Agrupamento Complementar de Empresas, Fresh Fusion, para exportar pêra Rocha para a cadeia de supermercados Lidl, na Alemanha. Que balanço fazem desta iniciativa?

Enquanto Portugal Fresh não poderia ser mais positivo. É fantástico ver quase que um filho prosseguir o seu caminho. A Portugal Fresh pôs à disposição esta oportunidade e as empresas souberam agarrá-la. Houve um mérito da associação, enquanto criação da oportunidade. Conseguimos o elo de ligação entre o Lidl internacional e as empresas associadas da Portugal Fresh. Todas tiveram oportunidade de dizer se estariam interessadas ou não em participar neste projecto conjunto. Houve 14 empresas que aceitaram o desafio. Olhando para a evolução das exportações para esse cliente especifico, atingiu-se o volume de 6.000 toneladas em três anos. O mercado alemão é o maior mercado da Europa, tem 82 milhões de consumidores, um bom poder de compra e, embora seja um mercado muito competitivo, queremos Portugal Fresh_Fruit Logisticareplicar quer com outros clientes quer com outros produtos. Não é um desafio fácil, mas todos os dias trabalhamos para isso, para conseguir identificar oportunidades que existam. O mercado alemão, em 2014, era o nono mercado das exportações nacionais. Com este trabalho e com mais alguns paralelos que as empresas foram desbravando, a Alemanha passou a ocupar a quinta posição quer em 2015, quer 2016.

Quantos associados têm actualmente? Há objectivos de crescer?

Neste momento, temos cerca de 80 associados, representamos cerca de 3.000 produtores porque a maioria dos associados são organizações de produtores. Todas as empresas que pensem que a promoção das frutas, legumes e flores é importante, são bem-vindas. Todos são importantes para ganharmos escala, dimensão. Somos um País muito pequeno em que realmente a falta de organização é o nosso aspecto menos positivo. O objectivo de aumentar o número de associados está sempre nas prioridades da associação.

Está prevista ou em análise a criação de uma marca chapéu para os hortofrutícolas de Portugal?

Acho que a Portugal Fresh é uma marca chapéu. Isso vê-se nas presenças internacionais, principalmente. Há muitos clientes que vão à nossa procura nos certames internacionais e reconhecem perfeitamente os nossos logos e associam o nome Portugal Fresh. Isso é sinal de que conseguimos nestes últimos seis anos comunicar a imagem do País, de uma oferta conjunta, que seria impossível conseguir se as empresas não estivessem unidas.

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