Foi a essa conclusão que a Agência Internacional de Investigação sobre o Cancro (IARC, na sigla francesa) chegou depois de analisar o impacto carcinogénico do glifosato, e de outros quatro pesticidas organofosforados, em laboratório. Agora, onze organizações não-governamentais portuguesas agrupadas na plataforma Transgénicos Fora querem proibir o seu uso em território nacional.
Segundo a IARC, o glifosato pode ser considerado «provavelmente carcinogénico», depois de terem sido encontradas «evidências limitadas» do linfoma não Hodgkin em humanos. Essas evidências resultam de estudos datados de 2001, sobre a exposição da população agrícola ao herbicida, nos Estados Unidos, Suécia e Canadá. Além disso, «o glifosato também provocou alteracções no ADN e danos nos cromossomas das células humanas» analisadas, disse a IARC num relatório publicado em Março. Também existem razões suficientes para considerar o químico carcinogénico para os animais de laboratório.
O herbicida surgiu no mercado na década de 70 do século XX, sob a alçada da marca Roundup, da Monsanto. Para além da sua aplicação na agricultura, o glifosato também é utilizado a nível doméstico, limpeza de ruas e em cursos de água. A sua utilização na agricultura aumentou exponencialmente desde o início da década, com o surgimento do milho e soja transgénicos, modificados para serem resistentes ao herbicida.
A Direcção Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV) explicou à Frutas, Legumes e Flores que o glifosato «tem um peso de cerca de 64% no volume de vendas de herbicidas», pelo que «continua a ser a substância activa mais utilizada em herbicidas». A DGAV aguarda a decisão da Autoridade Europeia para a Segurança Alimentar (EFSA) para tomar uma decisão sobre o futuro da utilização da substância.
A Associação Nacional da Indústria para a Protecção das Plantas (ANIPLA) diz em comunicado que «as deduções da IARC resultam de uma revisão de dados incompleta e que omitem provas importantes». Para além disso, «quando a avaliação é baseada no âmbito do uso real dos produtos, verifica-se que não existe nenhuma evidência de que os mesmos provoquem cancro nos seres humanos», acrescenta a ANIPLA.
Para a plataforma Transgénicos Fora, os organismos geneticamente modificados contribuem para o agravamento do problema causado pelo glifosato. A organização já tinha avançado, em 2014, com o programa “Autarquias Sem Glifosato”, em que apenas oito freguesias e quatro câmaras municipais subscreveram.
No mesmo relatório da IARC, os insecticidas malatião e diazinão foram, a par do glifosato, considerados «provavelmente cancerígenos». Os pesticidas tetrachlorvinphos e o paratião foram nomeados «possíveis cancerígenos».